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AgroInovar
Agricultura algarvia em busca do tempo perdido

Afonso Nascimento, da Fedagri, Macário Correia, da Associação de Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento Algarvio, José Oliveira, da AlgarOrange, Vítor Neto, da NERA, e Luís Ribeiro, do novobanco, foram alguns dos oradores e espetadores que estiveram presentes em Loulé

Agricultura algarvia em busca do tempo perdido

Setor agrícola algarvio mobilizou-se rumo a Loulé para debater as bases nas quais vai assentar o futuro da atividade. União de esforços entre os agentes regionais abordada como decisiva para ultrapassar desafios históricos como a escassez de água.


Publicado em 30 de Janeiro de 2025 às 09:00

O ciclo nacional de conferências AGROInovar, iniciado pelo novobanco, no Fundão, em junho de 2024, prosseguiu a 24 de janeiro, no sul, com a realização de um encontro em Loulé em que se fez um enquadramento das necessidades do setor agrícola e agroindustrial no Algarve, com vista para soluções que gerem riqueza e emprego.

Agricultura algarvia em busca do tempo perdido

Vítor Neto, presidente desta associação, foi quem primeiro tomou a palavra no painel de abertura

Intitulada “Os desafios no setor agrícola algarvio”, esta conferência realizou-se no Auditório da Associação Empresarial da Região do Algarve (NERA), onde esteve, no painel de abertura, Afonso Nascimento, responsável máximo da Federação da Agricultura Algarvia (FEDAGRI), que foi criada há poucos meses e uniu esforços com o novobanco na realização desta conferência. Sobre a FEDAGRI, Afonso Nascimento explica que nasceu da “necessidade de criar uma estrutura no Algarve que agregasse a todas as associações e cooperativas regionais, de modo que as reivindicações da região passassem a ser mais sentidas junto do Estado central”.

A inovação na poupança de água partiu dos agricultores da região do Algarve, e não das entidades públicas, que têm ido atrás dos investimentos particulares

Afonso Nascimento, presidente da FEDAGRI

Depois de “décadas”, a agricultura e o setor agropecuário algarvios estiveram votados “ao abandono” pela tutela. Hoje, estão reunidas as condições para começar a ultrapassar os grandes desafios na região, considera Afonso Nascimento. Mas há trabalho pela frente. “Urge exercer uma grande pressão para que os decisores políticos compreendam que estamos todos juntos, para levar por diante um setor que já tem um peso considerável nas receitas a nível regional e nacional, com um investimento de largos milhões de euros a ser suportado pelo risco dos empresários da região”. Exemplo disso mesmo é a questão das medidas de poupança no consumo de água no Algarve, face à escassez histórica de fornecimento desta, que marcou a atualidade agrícola do Algarve em 2024. “A inovação na poupança de água partiu dos agricultores do Algarve e não das entidades públicas, que têm ido atrás dos investimentos particulares”, adverte.

Apoio aos produtores

Também presente no painel de abertura, Luís Ribeiro, administrador para a área de empresas do novobanco, aproveitou para reafirmar “a forte relação” do seu banco com o tecido empresarial, destacando a agricultura como “um dos seis setores-chave” definidos por esta instituição financeira para a economia nacional. Nesse prisma, destaca a “capacidade de inovação” e “resiliência” de um setor “fundamental para o desenvolvimento sustentável do País”.

Luís Ribeiro destaca a abordagem integrada feita pelo novobanco ao setor agrícola, desenvolvendo um ciclo de conferências que, através de um périplo nacional que começou no Fundão e terá outras paragens ainda por definir, reflete as diferentes realidades em cada região, cada uma com as suas especificidades. “No Algarve, os citrinos e os frutos de casca dura têm um peso muito importante na produção agrícola regional, mas se formos a outras regiões percebemos que há outro tipo de necessidades”, exemplifica.

Agricultura algarvia em busca do tempo perdido

Luís Ribeiro, administrador para a área de empresas do novobanco, reafirmou a forte relação do seu banco com o tecido empresarial, destacando a agricultura como um dos seis setores-chave

É preciso continuar a investir em investigação e desenvolvimento (I&D) e na digitalização, rumo a um setor altamente especializado e a uma economia de precisão

Luís Ribeiro, administrador para a área corporate do novobanco

Na ótica deste responsável, importa passar a mensagem de que “é preciso continuar a investir em investigação e desenvolvimento (I&D) e na digitalização, rumo a um setor altamente especializado e a uma economia de precisão”. Mas, para tal, há que ter a capacidade de atrair jovens agricultores em volume mais significativo”, de forma a transformar a realidade atual – “Portugal é dos países da Europa com os agricultores mais envelhecidos”.

É neste “contexto socioeconómico altamente desafiante” que o novobanco se posiciona enquanto player facilitador de projetos, desenvolvendo um conjunto de soluções a partir do que verifica no terreno, em ações como esta. “Estamos aqui para ouvir, trazer soluções e aprender.”

Escassez de água gera apreensão na zona central

A necessidade de redimensionar o valor da agricultura algarvia, a começar na forma como esta é percecionada dentro do setor, esteve na base da apresentação de Gonçalo Santos Andrade, presidente da Portugal Fresh – Associação para a Promoção das Frutas, Legumes e Flores de Portugal. Este preletor pediu mais “ambição” aos agentes decisores do setor, considerando que estes deveriam tentar perceber o real valor estratégico do setor agroalimentar, comunicando o seu valor “potencial” num mundo a viver uma explosão demográfica, e não o seu valor “atual”. E questionou: “Quanto é que se está a perder de receita fiscal por não se terem feito as obras necessárias no setor?”

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Gonçalo Santos Andrade, presidente da Portugal Fresh, pediu mais “ambição” aos agentes decisores do setor

O explanar de um conjunto de medidas para incrementar o aprovisionamento da água e a visão atual relativamente à sanidade vegetal e animal também estiveram em debate no auditório NERA, em Loulé, antes da mesa-redonda em que se falou dos desafios e oportunidades para a agricultura algarvia. Um dos oradores, o presidente da AlgarOrange, José Oliveira, debruçou-se sobre o problema crítico da falta de água. Este responsável sublinhou as ações que estão a ser tomadas ações para combater a escassez de água na região, caso da futura dessalinizadora, ou da interligação entre as barragens do Alqueva, de Santa Clara e da Bravura, mas adverte que “o que está a ser planeado não contempla a zona central do Algarve, onde todo o processo de rega é feito com extração de água subterrânea”. Para José Oliveira, “é necessário pensar na criação de um perímetro de rega no Algarve central, ou no abastecimento artificial dessa zona como nos projetos das barragens de Alportel e da Foupana”. De contrário, garante, “a região central pode colapsar num cenário de crise climática, por falta de água”.

É preciso pensar na criação de um perímetro de rega no Algarve central, ou no abastecimento artificial dessa zona como nos projetos das barragens de Alportel e da Foupana

José Oliveira, presidente da AlgarOrange

Confiança no futuro

O presidente da Associação de Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento Algarvio, Macário Correia, foi um dos experts do setor a marcar presença na plateia. “O valor acrescentado bruto da agricultura no Algarve tem um valor expressivo entre 9 e 10%, o que significa que a região não se esgota no turismo – produzimos muita fruta, legumes e hortícolas. E a afirmação da agricultura algarvia será evidente à medida que tenhamos mais água”, afiançou.

Agricultura algarvia em busca do tempo perdido

A conferência encerrou com uma foto da família agrícola algarvia, sinal da força e entusiasmo com que dirigentes e produtores encaram o futuro na região.

No que respeita à dificuldade crónica do fornecimento da água necessária à produção, o dirigente associativo vê margem de melhoria em aspetos como a organização e o escoamento dos produtos. “Por vezes há picos de produção e temos fruta que não sai facilmente. A parte da indústria ainda não responde a muitas questões no Algarve.” Ultrapassar esse desafio deverá passar, de acordo com Macário Correia, pelo encontrar de “mecanismos associativos em articulação com a banca, e, eventualmente, outros investidores, para haver produção e até a transformação que possa gerar mais-valia e ajude a criar emprego”.

O valor acrescentado bruto no Algarve tem um valor expressivo entre 9 e 10%, o que significa que a região não se esgota no turismo

Macário Correia, presidente da Associação de Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento Algarvio

Foi com o apresentar das soluções de financiamento que o novobanco tem preparado para o setor agrícola que o certame caminhou para o fim. Através de José Gonçalves, diretor de marketing de empresas e negócios do novobanco, esta instituição financeira lembrou o seu “ADN empresarial” e posicionou-se como uma instituição “altamente comprometida” com o setor agrícola, com uma “oferta dedicada” que faz por encurtar “o intervalo entre banca e economia real”.